segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cantiga da Ribeirinha

A Cantiga da Ribeirinha, ou Cantiga de Guarvaia*, é o primeiro texto literário em galego-português de que se tem registro. A cantiga foi composta provavelmente em 1198, por Paio Soares de Taveirós, e recebeu esse nome por ter sido dedicada a D. Maria Pais Ribeira, concubina de Sancho I de Portugal, apelidada de "Ribeirinha". O texto é considerado o marco incial do Trovadorismo.

No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquel di', ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós ouve nem ei
valía d'ũa correa.

Em português atual:

No mundo ninguém se assemelha a mim (parelha: semelhante)
enquanto a vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que vos descreva (retrate)
quando vos eu vi sem manto (saia: roupa íntima)
Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia (ou seja, a viu mais bela)

E, mia senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal
e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia (guarvaia: roupa luxuosa)
pois eu, minha senhora, como mimo (ou prova de amor)
de vós nunca recebi
algo, mesmo que sem valor. (correa: coisa sem valor)


* A guarvaia era um manto luxuoso, provavelmente de cor vermelha, usado pela nobreza.

Sem comentários:

Enviar um comentário